ATA DA DÉCIMA OITAVA SESSÃO SOLENE DA TERCEIRA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA SEGUNDA LEGISLATURA, EM 11.08.1999.

 


Aos onze dias do mês de agosto do ano de mil novecentos e noventa e nove reuniu-se, nas dependências do “HD Sport Center”, sito à Avenida das Indústrias, nº 1165, a Câmara Municipal de Porto Alegre. Às vinte horas e trinta e quatro minutos, constatada a existência de “quorum”, o Senhor Presidente declarou abertos os trabalhos da presente Sessão, destinada à entrega do Título  Honorífico de Cidadão de Porto Alegre ao Senhor Francisco Buarque de Hollanda, nos termos do Projeto de Lei do Legislativo nº 88/99 (Processo nº 2028/99), de autoria  da  Vereadora Maristela Maffei. Compuseram a MESA: o Vereador Nereu D’Ávila, Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre; o Senhor Olívio Dutra, Governador do Estado do Rio Grande do Sul; o Senhor José Fortunati, Vice-Prefeito Municipal e representante do Senhor Prefeito Municipal de Porto Alegre; o Coronel Roberto Ludwig, Comandante-Geral da Brigada Militar; o Senhor Francisco Buarque de Hollanda, Homenageado; a Vereadora Maristela Maffei, na ocasião, Secretária “ad hoc”. A seguir, o Senhor Presidente convidou a todos para, em pé, ouvirem a execução do Hino Nacional e, após, concedeu a palavra aos Vereadores que falariam em nome da Casa. A Vereadora Maristela Maffei, em nome das Bancadas do PT, PTB, PMDB, PPB, PFL e PSB, ressaltou a justeza da homenagem hoje prestada ao Senhor Francisco Buarque de Hollanda, historiando fatos relativos à vida e à obra musical de Sua Senhoria e destacando a contribuição dada pelo Homenageado, através da sua atividade artística, para a luta pela concessão de direitos básicos de cidadania e de liberdade de expressão a todos os brasileiros. Após, o Vereador Nereu D’Ávila, na presidência dos trabalhos e em nome da Bancada do PDT, prestou sua homenagem ao Senhor Francisco Buarque de Hollanda, declarando ter sido de fundamental importância a atuação do Homenageado na luta pela redemocratização do País e afirmando que a qualidade de sua obra musical fez com que Sua Senhoria fosse considerado internacionalmente como um referencial da arte e da música brasileiras. Em continuidade, o Senhor Presidente convidou os Senhores José Fortunati, Olívio Dutra e a Vereadora Maristela Maffei para, juntamente com Sua Excelência, procederem à entrega da Medalha e do Diploma referentes ao Título Honorífico de Cidadão de Porto Alegre ao Senhor Francisco Buarque de Hollanda. Em prosseguimento, o Senhor Presidente concedeu a palavra ao Senhor José Fortunati que, em nome do Senhor Prefeito Municipal de Porto Alegre, saudou o Senhor Francisco Buarque de Hollanda. Após, o Senhor Presidente concedeu a palavra ao Homenageado, que agradeceu o Título recebido. A seguir, o Senhor Presidente convidou a todos para, em pé, ouvirem a execução do Hino Rio-Grandense e, às vinte e uma horas e um minuto, nada mais havendo a tratar, agradeceu a presença de todos e declarou  encerrados  os  trabalhos, convocando os Senhores Vereadores para a Sessão Ordinária da próxima sexta-feira, à hora regimental. Os trabalhos foram presididos pelo Vereador Nereu D’Ávila e secretariados pela Vereadora Maristela Maffei, como secretária “ad hoc”.  Do que eu, Maristela Maffei, Secretária “ad hoc”, determinei fosse lavrada a presente Ata que, após distribuída em avulsos e aprovada, será assinada pelos Senhores 1º Secretário e Presidente.

 

 

 


O SR. PRESIDENTE (Nereu D’Ávila): Estão abertos os trabalhos da presente Sessão Solene, destinada a homenagear o compositor Francisco Buarque de Holanda.

Convidamos para compor a Mesa o Vice-Prefeito de Porto Alegre Sr. José Fortunati, representando o Sr. Prefeito Municipal de Porto Alegre Raul Pont; o Comandante da Brigada Militar  Sr. Roberto Ludwig; o Sr. Olívio Dutra, Governador do Estado do RS.

Srs. Vereadores, Sras. Vereadoras, autoridades aqui representadas, nós temos a satisfação, Chico, de, atendendo a tua vontade, fazermos a entrega do título de Cidadão Honorífico da Cidade de Porto Alegre num campo esportivo. Devo confessar que não foi fácil esta inversão, devido a certas formalidades. Mas como tu és o Chico Buarque de Hollanda, tens uma “pequena” folha de serviços prestados à Nação, à democracia, ao estado de direito e às liberdades, além de ser o gênio da Música Popular Brasileira, não tenha dúvida que nós, gaúchos, a partir do Governador Olívio Dutra, que aqui está, que num gesto largo ao seu feitio de gaúcho, que não tem peias em relação a protocolos, e o próprio Vice-Prefeito aqui representando o Prefeito Raul Pont, temos muita satisfação de realizarmos a Sessão neste local.

Apesar do estilo não de todo informal, porque algumas questões nos prendem, nós soubemos temperar a questão formal com a vontade do nosso homenageado que, inclusive por compreensíveis atividades artísticas, recebe esta homenagem da Cidade de Porto Alegre, através da sua Câmara e do seu Executivo, endossado pelo próprio Governador, aqui neste local.

Convidamos todos os presentes para, em pé, ouvirmos o Nino Nacional.

 

(Executa-se o Hino Nacional.)

 

O SR. PRESIDENTE: Ouviremos agora o pronunciamento da proponente da homenagem, Vereadora Maristela Maffei, que falará em nome da sua Bancada, PT, e também em nome das Bancadas do PTB, PMDB, PPB, PFL e PSB.

 

A SRA. MARISTELA MAFFEI: Excelentíssimo Sr. Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre Vereador Nereu D’Ávila, que está presidindo esta Sessão; Excelentíssimo Sr. Comandante da Brigada Militar Roberto Ludwig; Excelentíssimo Sr. Vice-Prefeito de Porto Alegre José Fortunati, representante do Prefeito Raul Pont; Excelentíssimo Governador do Estado do Rio Grande do Sul companheiro Olívio Dutra; Excelentíssimo e também companheiro Chico Buarque, há muito que a humanidade sente fome. É a fome da cultura, é a fome dos valores, é a fome da verdade. Esta, companheiro Chico, é a pior das fomes! E posso dizer com a maior tranqüilidade que é bem verdade que nós não viemos aqui te reverenciar, mas também nós não podemos deixar de dizer que você, Chico, mostrou outra cara fora do nosso País. E fez também com que muitas pessoas na nossa sociedade, mesmo sendo um País de terceiro mundo, desmistificassem o senso comum e começassem a compreender que não existe apenas a verdade da mídia e das telecomunicações de uma forma que deprecia, de uma forma que ilude, de uma forma que torna as pessoas robôs.

Então, Chico, esta homenagem também significa, para nós, te dizer que fora daqui, desde a época em que éramos torturados nos porões, nos cárceres, tu tiveste a coragem de continuar denunciando e resistindo, gritando por liberdade, principalmente a liberdade de expressão, a liberdade dos direitos humanos, a liberdade pela vida. Porque nessa sociedade, onde os valores estão invertidos pelo ter e não mais pelo ser, somos profundamente banalizados.

Hoje nós não temos mais a ditadura militar, mas temos outros tipos de ditadura. Nós podemos, sim, entrar num supermercado, mas a grande maioria da nossa população, excluída, não tem condições de comer dignamente. Com a globalização, que é definida e que dita as normas no universo, através do FMI, as multinacionais, responsáveis pela exploração do trabalho infantil e o desemprego jamais visto na nossa história, fornando uma indústria de marginalização. Neste sentido, Chico, nós te devemos algumas coisas. E aqui neste canto da América Latina, nós resistimos e vamos continuar resistindo apesar de tudo. E as tuas composições, Chico, também nos ajudaram e motivaram nossa primeira vitória com o companheiro Olívio Dutra em Porto Alegre. E, com certeza, na segunda vitória do Olívio, agora como Governador.

Chico, na história da maioria dos artistas, tu foste um dos poucos que não dobrou a espinha, que não ficou de cócoras como é, infelizmente, a realidade daquele que representa em nível nacional este País, que é o Presidente Fernando Henrique Cardoso. Por isso, Chico, tu, ou mesmo eu, pessoa simples, da periferia, que veio lá do Interior e que te dizia, por telefone, sem depreciar o regionalismo, que lá nós apenas escutávamos Teixeirinha e Mary Teresinha; por algum caminho, num radinho, eu escutava já as tuas letras. Acho que isso tem - ainda bem - muito a ver com a minha vida. Por isso, Chico, muito mais do que os teus belos olhos, que tuas composições, nós homenageamos a tua luta de resistência e coragem de prosseguir.

Para finalizar, eu quero dizer novamente que muito mais que a fome da comida é a fome da miséria que este País vive, pelo senso comum que rotula nossa cultura. Nós precisamos cada vez mais estarmos certos dos desafios e sermos vitoriosos. Por isso, companheiro Chico, com tesão, com alegria, com convicção, tudo podemos construir. E tu representas um pouco dessa alegria e da nossa resistência. Muito obrigada por teres aceitado estar aqui conosco, assim como todas as pessoas que aqui estão. Muito obrigada. (Palmas.)

 

(Não revisto pela oradora.)

 

O SR. PRESIDENTE: Em nome da Bancada do PDT, quero apenas dizer que a única coisa que eu acho importante acrescentar é que nós todos quando estamos donos de uma situação, temos a inclinação natural de aceitarmos essa situação, a não ser que seja um estado de exceção. E para quem viveu, como nós, um estado de exceção - e a minha geração foi sacrificada nesse estado de exceção -, a liberdade é muito valorizada. Nós pensávamos, naquela época: como será bom o dia em que tivermos a mais absoluta liberdade para todos os atos da vida civil, para toda a manifestação da imprensa, para toda a liberdade individual que gostaríamos de ter - e que temos. Este é o ponto onde quero chegar. Porque muitos que estão aqui podem não valorizar isso. Eu sou do partido do Brizola e lembro-me que na época de exceção, só o fato de pronunciar o nome do Brizola aqui no Estado ensejava quase ir para o DOPS, quase ir para a cadeia. Eram os chamados subversivos da época. O Chico colaborou, e muito, para que tivéssemos hoje essa liberdade. Eu penso que devemos registrá-la com ufanismo, porque hoje eu incorporei aquilo que muitos diziam e que eu não acreditava: que só se valoriza a liberdade quando não a temos. E hoje, como a temos, devemos valorizá-la ao máximo e valorizar aqueles que a construíram com muito sacrifício, entre os quais Chico Buarque de Holanda. E homenageio também aqueles que a construíram e que morreram, e àqueles que foram para os cárceres e que ficaram com seqüelas.

Há poucos dias, uma reportagem apresentada num programa de televisão que vai ao ar aos domingos à noite e é muito assistido, mostrou uma das excrescências daquele regime. Já deitado e olhando aquilo, parecia-me que não era verdade. Uma ilha, no meio do Rio Guaíba, um local aprazível sob o ponto de vista turístico, com um pôr-de-sol lindíssimo, serviu como cárcere político. E um dos que sofreram na época e que saiu  de lá com seqüelas, o nosso Deputado Carlos Araújo, foi até lá com a reportagem, para recordar os dias tristes, penosos e frios passados lá. Tudo isso parece um filme de terror. Mas não foi; foi uma realidade. Hoje, é uma página virada na história do Brasil, Graças a Deus! E nós a viramos lutando, todos. Cada um deu um pouquinho.

De música eu não entendo, por isso eu falo naquilo que eu entendo um pouco, que são as liberdades valorizadas. Portanto, esta é a minha palavra nesta noite para o nosso homenageado, que recebe de Porto Alegre hoje esta homenagem. Aqui estão os Vereadores Antônio Losada, Juarez Pinheiro, Guilherme Barbosa, José Valdir e Sonia Saraí, além da proponente, Vereadora Maristela Maffei, junto com as autoridades, desde a mais alta autoridade, o Governador do Estado, o Prefeito da Cidade e o Presidente da Câmara representando o Poder Legislativo com os seus colegas, para dizer que valeu a pena, sim. E que tu, Chico, contribuíste muito para que hoje estivéssemos aqui, eufóricos e felizes, podendo outorgar aquilo que Porto Alegre tem de melhor, a sua medalha e o seu diploma, a uma personalidade que é cidadão do mundo, e cujas composições nós todos sabemos de cor, ouvimos e cantarolamos. Portanto, receba, Chico, a nossa mais profunda homenagem. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Convidamos o Vice-Prefeito de Porto Alegre, José Fortunati, aqui representando o Sr. Prefeito Raul Pont, para entregar a Chico Buarque de Hollanda a medalha a que faz jus pelo título de Cidadão Honorífico da Cidade de Porto Alegre concedido pela Câmara Municipal de Porto Alegre.

 

(É feita a entrega da medalha.) (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE: Convidamos a Vereadora Maristela Maffei para, junto com o Governador do Estado Olívio Dutra e este Presidente, fazer a entrega do título, aqui representado pelo diploma de Cidadão Honorífico da Cidade de Porto Alegre, a Chico Buarque de Hollanda.

 

(É feita a entrega do diploma.) (Palmas.)

 

O Vice-Prefeito José Fortunati está com a palavra.

 

O SR. JOSÉ FORTUNATI: Meu caro Chico, eu queria, em nome do Prefeito Raul Pont, dizer da nossa grande alegria. Nós gaúchos e porto-alegrenses estamos extremamente orgulhosos em tê-lo como Cidadão de Porto Alegre.

Em segundo lugar, gostaria de dizer que da última vez que estivemos juntos, no Rio de Janeiro, quando da realização do Encontro Nacional do PT, lá realizamos um jogo - os petistas, arrebanhados do Encontro Nacional, contra o time do Chico -, e perdemos por cinco a um. Hoje é o dia da vingança! Parabéns, meu caro Chico! Um grande abraço e volte sempre a Porto Alegre. Muito obrigado. (Palmas.)

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: O nosso homenageado, Chico Buarque de Hollanda, está com a palavra.

 

O SR. FRANCISCO BUARQUE DE HOLLANDA: Eu serei brevíssimo. Queria dizer que o meu pai era paulista, meu avô pernambucano e daqui para a frente eu serei porto-alegrense e gaúcho. Sempre que estiver escrevendo ou compondo, vou procurar me lembrar que serei conterrâneo de Érico e Luis Fernando Veríssimo, serei conterrâneo de Mário Quintana, serei conterrâneo de Lupicínio Rodrigues. Daqui a alguns minutos, jogando futebol, tentarei me lembrar que sou também conterrâneo de Ronaldinho gaúcho.

Agradeço de coração, estou muito honrado. Agradeço à Vereadora Maristela Maffei, agradeço às suas palavras, agradeço ao Presidente da Câmara, Vereador Nereu D’Ávila, agradeço ao Vice-Prefeito José Fortunati, e agradeço muito especialmente ao meu Governador Olívio Dutra. Muito obrigado a todos. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Convidamos todos os presentes para, em pé, ouvirmos o Hino Rio-Grandense.

 

(Executa-se o Hino Rio-Grandense.)

 

Estão encerrados os trabalhos da presente Sessão.

 

(Encerra-se a Sessão às 21h01min.)

 

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